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NOTÍCIA

Mato Grosso tem mais seguranças privados do que PMs nas ruas

Em média, cada PM é responsável pela segurança de mais de 500 habitantes. Moradores pagam caro por câmeras, alarmes e vigilantes particulares.

Data: Terça-feira, 21/10/2014 00:00
Fonte: Pollyana Araújo Do G1 MT

Reféns do medo, a cada dia mais mato-grossenses contratam serviços de segurança privada para ter um pouco mais de tranquilidade. Prova disso é que a quantidade de vigilantes armados supera o de policiais militares circulando pelas ruas das 141 cidades do estado. São 7.500 seguranças privados e 6.472 PMs. Isso sem contar os 1.063 policiais que exercem funções administrativas ou fazem a segurança dos órgãos públicos, além daqueles que escoltam autoridades, entre elas o governador do estado. Os dados foram fornecidos pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) e pelo Sindicato das Empresas de Segurança, Vigilância e Transporte de Valores de Mato Grosso (Sindesp).


Proporcionalmente, cada policial é responsável por fazer a segurança de 575 habitantes do estado, desconsiderando os policiais remanejados para áreas administrativas. Apesar do número ser baixo se comparado ao de habitantes de Mato Grosso, que ultrapassa 3,1 milhões, praticamente sextuplicou o efetivo da PM nos últimos anos. No início da década passada, menos de 1.000 policiais atuavam no estado.


Até o início do ano que vem, pelo menos mais 600 policiais militares já deverão estar trabalhando, conforme o secretário de Segurança Pública, Alexandre Bustamante. Ele informou que no dia 31 deste mês os aprovados no último concurso público do estado vão ingressar na academia de polícia e, em cinco meses, no máximo, estarão prontos para fazer a segurança nas ruas. No entanto, ele avalia que somente o aumento de policiais não é suficiente para reduzir a criminalidade.

 

"A lei precisa ser mais rígida e os julgamentos mais céleres. O direito da coletividade deve prevalecer. Infelizmente, no Brasil o direito do réu está acima do direito da vítima", avaliou o secretário em entrevista ao G1.


Os 7.500 vigilantes contratados para fazer a segurança terceirizada de empresas, órgãos públicos e até mesmo de pessoas trabalham nas 44 empresas de segurança privada instaladas no estado, segundo o Sindicato das Empresas de Segurança, Vigilância e Transporte de Valores de Mato Grosso (Sindesp). Há pouco mais de 10 anos, havia somente 15 empresas atuando nesse ramo em Mato Grosso. “O mercado vai crescendo, a demanda aumentando, e aquelas pessoas que trabalhavam como diretores de empresas já consolidadas montaram o próprio negócio”, disse Cipriano Lima, diretor administrativo do sindicato que representa o setor.


Mais de 90% dos seguranças privados são homens, pois, na avaliação do sindicalista, ainda existe um certo machismo dos clientes em relação às mulheres, embora elas demonstrem mais dedicação. “As mulheres fazem melhor trabalho do que os homens, mas o mercado ainda é restrito aos homens”, pontuou Lima. Para pleitear vaga de emprego nessa área, é preciso passar por um curso em escolas autorizadas pelo Ministério da Justiça.


A lei precisa ser mais rígida e os julgamentos mais céleres. O direito da coletividade deve prevalecer. Infelizmente, no Brasil o direito do réu está acima do direito da vítima"
Alexandre Bustamante, secretário de Segurança Pública de Mato Grosso

Despesas
Outros meios de obter segurança também têm sido adotados pela população para dificultar a ação de criminosos, como circuito de câmeras de monitoramento, alarme, cerca elétrica e sensores. Além disso, alguns moradores apostam na vigilância de guardas noturnos para monitorar as ruas do entorno de suas residências.


Após ter a casa assaltada, a empresária Cristiane Anaia de Almeida, que mora no Bairro Alameda, em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, instalou câmeras de segurança, cerca elétrica e alarme nas portas e janelas da residência. Durante o assalto, o marido dela foi atingido por um tiro e quase perdeu o movimento do braço esquerdo.


Circuito interno de câmeras permite que moradores vejam quem está rondando a casa (Foto: William Almeida/ Arquivo pessoal)
Câmeras permite que moradores vejam quem está perto da
casa (Foto: William Almeida/ Arquivo pessoal)

Cristiane teve de gastar R$ 8 mil para a instalação do circuito de segurança. Ela disse não achar justo pagar imposto para ter segurança pública e ainda ter que pagar por segurança privada. Por mês, ela passou a desembolsar R$ 3 mil para ela e o marido serem escoltados até o local onde trabalham. A escolta é feita por seguranças particulares durante o horário que não estão atuando no serviço público. “Eles nos levam e nos buscam todos os dias”, contou.


O marido dela passou por cirurgia e teve de fazer fisioterapia para voltar a ter os movimentos do braço e da mão esquerda. Ele saía de casa, em 2012, dirigindo um caminhão da empresa quando foi surpreendido no portão por ladrões armados. Os assaltantes mandaram que ele parasse e descesse do veículo, mas ele continuou e um homem encapuzado atirou. A vítima então colocou a mão na frente do rosto e o tiro acertou o braço e a mão dele.


Além das despesas com circuito de segurança e escolta armada, Cristiane ainda paga R$ 100 por mês para um vigilante noturno que faz a segurança particular no bairro. “Todos os dias ele acompanha meu filho quando ele chega da faculdade à noite”, contou.


Na casa da mãe dela, no Bairro Verdão, em Cuiabá, nas proximidades da Arena Pantanal, vigilantes particulares passam o dia todo na rua para fazer o monitoramento. O valor pago pelo serviço é dividido entre os moradores. Para isso, cada morador desembolsa R$ 300 por mês. Eles observam quem entra e quem sai das casas e se houver qualquer situação de anormalidade chamam a polícia.


Cerca elétrica com ferpa e alarme foi uma das medidas adotadas pela empresária (Foto: William Almeida/ Arquivo pessoal)Cerca elétrica com ferpa e alarme foi uma das medidas adotadas pela empresária (Foto: William Almeida/ Arquivo pessoal)


Tecnologia
A gaiola energizada, um equipamento com 9 mil volts, tem sido a última novidade no setor de segurança, de acordo com o Sindicato das Empresas de Segurança Eletrônica de Mato Grosso (Siese). O equipamento é usado normalmente para proteger bens valiosos e visados pelos criminosos, como defensivos agrícolas e eletrônicos.


O mais procurado, no entanto, é o sistema de alarme e monitoramento. Quando a sirene dispara, um técnico que está na central da empresa de segurança verifica se existe alguém no local e, dependendo da situação, chama a polícia ou envia uma equipe até o prédio. "A sirene dispara e a tendência é que o criminoso fuja, mas o sistema mais eficiente é evitar que o criminoso entre no local. A cerca elétrica ajuda a evitar isso", disse o presidente da entidade, Maurício Alves.