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'Não adianta mais trabalhar assim', diz agricultor lesado por fraude no RS

Audiência reuniu produtores lesados por fraude com crédito do Pronaf. Depoimentos mostram que esquema era semelhante em todos os casos.

Data: Sábado, 29/11/2014 00:00
Fonte: Do G1 RS

 

 


Uma audiência pública ouviu dezenas de casos de agricultores prejudicados na suposta fraude envolvendo crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) na tarde desta sexta-feira (28) em Santa Cruz do Sul, na Região do Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. Eles relataram como funcionava o esquema que, de acordo com o inquérito da Polícia Federal, desviou cerca de R$ 80 milhões.


Promovido pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, o eventolotou o auditório da Faculdade Dom Alberto, no Centro da cidade, e revelou o drama particular de produtores afetados. "Quase não adianta mais trabalhar assim como está. A minha mulher até chorou em casa porque a gente agora trabalha com dívida", disse o agricultor Milton Kappel.


Ele detalhou o mesmo testemunho de outros produtores lesados: o interessado fazia o financiamento, mas quando ia começar a pagar descobria que tinha débitos de outros empréstimos. Segundo Kappel, a dívida inicial, que era de R$ 5,3 mil, já dobrou. "Estou devendo aquela dívida de R$ 15 mil no banco que nunca vi a cor do dinheiro até hoje", desabafou o agricultor Edgar Robirwoll, outro afetado que participou da audiência.


De acordo com o inquérito, pelo menos seis mil agricultores do Vale do Rio Pardo foram prejudicados. Eles faziam o financiamento através do Pronaf, utilizando a Associação Santa-Cruzense dos Agricultores e Camponeses (Aspac), para intermediar a ação em duas agencias do Banco do Brasil na região. Parte dos financiamentos liberados era desviada para contas pessoais de membros da Aspac e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), indicam as apurações. A situação fazia os produtores assumirem as dívidas.


Na próxima segunda-feira (1), pelo menos 10 funcionários vão reforçar a equipe do Banco do Brasil em Santa Cruz do Sul para atender agricultores e analisar os pedidos de revisão dos financiamentos. Pela manhã, alguns vereadores receberam agricultores na Câmara Municipal para uma conversa reservada antes da audiência pública.


Entenda o caso
O esquema começou a ser investigado depois das queixas dos pequenos agricultores. Seis mil teriam sido prejudicados. Documentos do inquérito policial mostram que a fraude seria comandada pelo coordenador do MPA, Wilson Rabuske, que também é vereador de Santa Cruz do Sul pelo PT. No total, o desvio para as contas dele e da mulher chegariam a mais de R$ 1 milhão. Rabuske se defende e nega fraude.


"Foram feitos pagamentos pela minha conta pessoal, quando a associação não tinha disponibilidade, inclusive do uso de talões de cheques para nós honrarmos compromissos, nós usá

 

vamos a conta pessoal. E esses valores foram para isso", disse.


A transcrição das escutas telefônicas autorizadas pela Justiça também indica a participação do vereador Maikel Ismael Raenke, do PT de Sinimbu, e do deputado federal Elvino Bohn Gass, do PT. Como o deputado tem foro privilegiado, o inquérito foi enviado para o Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou o arquivamento da investigação contra Bohn Gass. A decisão é do ministro Teori Zavascki, relator do caso, e atende a um pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O ministro determinou também que o inquérito retorne para a 7ª Vara da Justiça Federal de Porto Alegre.


No documento em que requer o arquivamento, o procurador afirma que o vazamento de informações na imprensa da investigação que corria em segredo de Justiça tornou impossível a busca de provas contra o deputado, com a interceptação telefônica e busca e apreensão.


Em depoimentos, agricultores disseram que assinaram documentos em branco, ou muitas vezes não liam o que estava escrito. O inquérito da polícia ainda aponta para 134 casos de suicídios ocorridos na região nos últimos anos. Ao cruzar esses dados com as informações de vítimas da fraude, foi constatado que 10 agricultores que morreram foram enganados e estavam endividados.