O Papa Francisco inicia nesta quarta-feira sua primeira visita à Polônia, onde é esperado pela multidão festiva da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), com quem falará sobre o acolhimento de refugiados, um tema que incomoda o episcopado polonês.

 

Os recentes ataques na França e na Alemanha devem ofuscar a festa dos jovens católicos, que estarão submetidos a rígidas medidas de segurança.

 

O pontífice pisa pela primeira vez na terra de João Paulo II e visitará também o santuário mariano de Czestochowa e o campo de extermínio nazista de Auschwitz.

 

Lá, rezará em silêncio pelos 1,1 milhão de pessoas, entre elas um milhão de judeus, que foram exterminados pela Alemanha nazista, e se reunirá com um grupo de sobreviventes.

 

Também rezará na cela de São Maximiliano Kolbe, o religioso franciscano que ofereceu sua vida para salvar um pai de família.

 

JMJ, criação de João Paulo II

A JMJ, conhecida como o "Woodstock" dos católicos, foi criada por João Paulo II em 1986, e neste ano é celebrada em Cracóvia, antiga capital real da Polônia.

 

A edição deste ano será dedicada ao tema da misericórdia, que, para o Papa, passa também pelo acolhimento ao forasteiro, ao refugiado, um drama que atualmente sacode a Europa.

 

Para Francisco, filho de migrantes italianos, trata-se do drama que marca seu pontificado, a chegada de milhares de migrantes que fogem da fome e da guerra na África e no Oriente Médio.

 

Sua posição sempre foi clara: acolher e integrar. "Todos somos migrantes", declarou quando visitou a ilha grega de Lesbos, símbolo desse drama.

 

Como exemplo, voltou para o Vaticano levando três famílias de muçulmanos e pediu a todas as paróquias no mundo que acolham ao menos uma família de refugiados.

 

Apesar dos pedidos do Papa e das diretrizes da União Europeia, boa parte da sociedade polonesa, assim como suas autoridades, se negam a receber refugiados.

 

O governo conservador da primeira-ministra Beata Szydlo, profundamente católico, não quer que a Polônia receba migrantes porque os consideram uma ameaça para a segurança.

 

Os bispos poloneses, já preocupados com a abertura do papa sobre temas como o acesso à comunhão dos divorciados que voltam a se casar, também mantêm uma certa prudência.

 

"O Papa certamente falará sobre os refugiados", comentou o núncio apostólico de Varsóvia, o arcebispo Celestino Migliore.

 

A estada de Francisco em Cracóvia, de 27 a 31 de julho, alude inevitavelmente a João Paulo II, o primeiro papa polonês da história, que foi arcebispo desta cidade antes de chegar ao Trono de Pedro.

 

Quando o Papa argentino aparecer na janela da sede do arcebispado para saudar os jovens reunidos, repetirá um gesto típico de Karol Wojtyla, venerado em seu país.

 

Fiel a seu estilo informal e sem temer por sua segurança, Francisco também visitará a quinta Blonia, um enorme parque no centro da cidade para a cerimônia de boas-vindas.

 

Break dance

Milhares de jovens de todo o mundo invadiram a cidade, onde um exército de voluntários e famílias os receberam com entusiasmo.

 

O programa combina concertos, debates, visitas e passeios, além de partidas de futebol e até concursos de break-dance.

 

As originais "Maratonas da Misericórdia" garantirão a realização da limpeza de uma residência para cegos e a preparação de alimentos para pessoas sem teto e indigentes.

 

A JMJ será concluída com outra maratona, já que os jovens acamparão durante a noite de sábado no campo de Brzegi, a 15 km de Cracóvia, para meditar sob as estrelas sobre "a fé e a fraternidade", como pediu o Papa em uma videomensagem.

 

No domingo, Francisco presidirá, ante a multidão de jovens, a missa de encerramento, quando anunciará a edição da próxima JMJ, provavelmente em um país da América Latina.

 

A edição anterior foi realizada no Rio de Janeiro.

 

Os organizadores calculam uma presença de dois milhões de peregrinos, mas oficialmente só se inscreveram 400.000 jovens. O temor de atentados pode ter influenciado os jovens, embora, normalmente, muitos apareçam sem estar inscritos.