ARIPUANÃ, Sábado, 27/04/2024 -

COLUNAS

GABRIEL NOVIS NEVES – Para não dizer que me esqueci

Data: Terça-feira, 12/12/2023 09:55
Fonte: Gabriel Novis Neves

No 10 de dezembro, a Fundação Universidade Federal de Mato Grosso completou 53 anos de fecunda existência. Esquecer desta data, como poderia?. Foi mais de meio século de serviços incontáveis, em prol do desenvolvimento do Estado de Mato Grosso.

Inesquecível: a aprovação de seu funcionamento foi muito festejada em nossa cidade. Diria até que se vestiu de apoteose, a despeito de uma minoria de ‘incrédulos’. ‘Os donos dos currais’, estes teimavam em não acreditar na implantação.

Essa parcela insignificante da população oligárquica, que detinha o poder, não via com ‘bons olhos’ o fulgor do ensino superior em Cuiabá.

Os filhos deles podiam, sem sacrifício algum, estudar fora, mantida a farra dos mais erguidos cargos públicos, a privilegiar seu clã.

Não punham fé no ‘poder de construção’ de tão complexo projeto, entregue aos filhos de gente simples da terra. Um dos líderes da época houve que, ao governo do Estado, propôs se fizesse a seleção dos melhores alunos do ensino médio. Fossem eles fazer o curso superior fora daqui, com bolsa à custa do governo.

Segundo seu míope olhar, sairia bem mais ‘barato’, se comparado fosse com o ônus da manutenção dispendiosa de ‘uma’ universidade. Foram os ‘filhos de ninguém’ — expressão de sabor bem cuiabano — os responsáveis pela implantação de nossa Universidade Federal.

Muito fosfato investimos para não ser apenas mais uma universidade no rol estatístico do MEC. Propusemos, então, a inversão do consagrado binômio ‘ensino-pesquisa’ para ‘pesquisa-ensino’. Sem centrar fogo na pesquisa, o ensino estagna.

Clara alusão a justificar a criação de uma Universidade Federal voltada à ‘ocupação científica’ do imenso vazio demográfico: do cerrado mato-grossense à floresta amazônica.

‘Ninguém ensina o que não sabe’. Como nos candidatar a preparar uma mão de obra qualificada para a conquista não predatória da Amazônia e do cerrado se nem mesmo nós a conhecíamos bem?

A ‘Universidade da Selva’ —essa a forma como nos nomeavam —, dadas as propostas que levamos ao 1º Encontro dos Reitores das Universidades Públicas, findou sendo abraçada.

O projeto Aripuanã, implantado perto da Cachoeira de Dardanelos, foi a base de estudos de professores, cientistas e pesquisadores.

O projeto captou recursos humanos e financeiros, fornecendo novos perfis pedagógicos aos cursos de Cuiabá.

Fosse apenas com recursos orçamentários do MEC, não teríamos uma Universidade à altura, feição específica, com diversos cursos inclinados à realidade amazônica.

Bom saber que esse canteiro de cultura semeou flores. Seja exemplo a Universidade Federal de Rondonópolis — outrora mera extensão da nossa —, agora ostentando sua faculdade de Medicina.

Isso tudo sem assinalar que a UFMT foi protagonista na divisão do Estado de Mato Grosso, daí emergindo nosso coirmão: Mato Grosso do Sul.

Nos festejos comemorativos dos 53 anos, há quem, não oriundo deste Estado, vai ser dignamente homenageado.

Seus fundadores — aqueles que lhe pisaram o chão desde os primeiras horas — muitos já se despediram de nós.

Sem desmerecer o rosário dos que compraram a ideia, rendo menção especial a três deles. Quantas pedras carregaram! Foram a cal e o cimento da obra: Benedito Pedro Dorileo, Atílio Ourives e Edílson Bezerra.

Dói saber que alguns dos descendentes de tantos obreiros estão a lutar, na justiça, por salários que lhes foram injustamente retirados dos contracheques. Coisas de uma burocracia tacanha!

Nossa Universidade, sem autonomia, se transformou numa autarquia. Mantém-se subordinada à Brasília, como umas das muitas repartições públicas do Brasil.

A mim me sobram razões para afirmar que nada, neste Estado, imprimiu tamanha relevância a seu desenvolvimento quanto a Universidade Federal.

A ela — sonho que de longe vínhamos acalentando, tornando-o realidade —, parabéns pelos 53 anos!.

 

 


Autor: Gabriel Novis Neves
Sobre: Gabriel Novis Neves é médico e ex-reitor da UFMT