No artigo de ontem escrito neste espaço, o tema foi a cara dos presos nos presídios e nas cadeias de Mato Grosso. O dado é sério: analfabetos e semialfabetizados continuam sendo maioria nos presídios de Mato Grosso. A maior parte dos detentos, 6.876, incluindo homens e mulheres, têm até o ensino fundamental completo.
Antes, gostaria de me referir a outra questão ligada ao assunto. Dia desses à noite liguei o rádio portátil e comecei a correr emissoras. Parei numa, a Rádio Aleluia, de Cuiabá, que transmitia um programa dirigido a presos nas cadeias e nos presídios. O apresentador é Pastor Modesto. Ele abre os telefones da emissora e põe no ar familiares de presos. São testemunhos extremamente dolorosos de quem fica do lado de fora e tem que sustentar os custos existentes dentro dos presídios. E lidar com a ausência dos presos ou com dramas familiares dolorosos. Escutei o programa até o fim e quando acabou, eu estava muito abalado.
Ouvi mães, pais, esposas e filhos enviando recados para os presos numa linguagem simples e claramente sofrida. É gente por si só sofrida e de pouco amparo. Mães choram a falta dos filhos e lamentam o caminho que escolheram. Esposas relatam dramas de saúde própria, dos filhos e a habitual falta de dinheiro até pra comida. Um sentimento forte de esperança depositada “nas mãos de Deus” e um senso de justiça divina que se resuma na libertação dos parentes presos. Todos, sem exceção, não falam do crime cometido, seja ele qual tenha sido. Todos consideram o parente uma vítima da sociedade.
Ninguém tem o dinheiro pra pagar o advogado que possa soltá-los. Por isso, entregam nas mãos de Deus o destino dos presos. Porém, aqueles que são soltos, 70% retornam aos presídios por muitos fatos: 1 – analfabetismo ou pouca instrução escolar; 2 – dívidas contraídas dentro do presídio e roubam pra pagar; 3 – envolvem-se em ramificações das quadrilhas organizadas dentro dos presídios e, 4 – índole delinquente ou nova oportunidade de cometer crimes.
Voltamos ao tópico inicial do artigo. Os presídios tem tudo pra reeducar essas pessoas que as famílias consideram vítimas. De certo modo são mesmos. O nome técnico de um preso é reeducando. Mas dentro do presídio ele é introduzido na academia do crime e se gradua pra repetir cá fora o aprendizado. Os presídios tornaram-se casas de negócios políticos ou de corrupção escancarada. Como discutir e como lidar com isso? Não existem respostas à vista. O Estado corrompe a si aos reeducandos e do lado de fora dos presídios, a sociedade se prende em casa, em condomínios, em apartamentos e tem medo. Quadro desesperançoso num país democrático. Voltarei ao assunto.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
[email protected] www.onofreribeiro.com.br