Fonte:IG/ Severino Motta-enviado a Aripuanã
Fotos:topnews
Usina engordará cofres do município e Estado. Na cidade, diversos programas sociais e ambientais são desenvolvidos.
usina hidrelétrica de Dardanelos, em Aripuanã (1030 km a noroeste de Cuiabá-MT) – invadida por índios no domingo e desocupada na terça-feira - será responsável por cerca de 25% da arrecadação municipal quando iniciar seu funcionamento, que deve acontecer no primeiro trimestre de 2011.
A construção do empreendimento alterou a rotina da pequena cidade, gerando no período mais intenso da construção cerca de oito mil empregos, entre diretos e indiretos. Além disso, uma série de programas sociais e ambientais foram implantados para a população local.
O presidente do consórcio Águas de Pedra, José Piccolli, responsável pelo empreendimento, disse que o município arrecadará cerca de R$ 4 milhões ao ano com os impostos pela venda de energia. O mesmo valor será repassado para o governo do Estado. A união ficará com uma parcela menor, de cerca de R$ 1 milhão.
O empreendimento, orçado em R$ 760 milhões, ainda trouxe obras de infraestrutura e projetos sócioambientais para o município. Como a usina será interligada ao Sistema Nacional de Energia (SIN), também serão implantados, paralelamente à linha, cabos de fibra ótica, possibilitando que a cidade tenha acesso a serviços de dados de alta velocidade e telecomunicações.
No plano social, a Águas de Pedra está construindo na cidade um hospital com capacidade para 52 leitos e um posto de saúde familiar. Fez ainda um centro de educação continuada, onde professores são formados.
Numa parceria com o Sebrae também foi desenvolvido um projeto agrícola, o que permitiu a diversificação da atividade econômica da região, antes baseada quase que exclusivamente no setor madeireiro.
De acordo com o presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Aripuanã, Everaldo Dutra, diversos cursos são ministrados a pequenos produtores, que tem conseguido apoio técnico para plantações e consultorias para a formação de cooperativas.
“Foram realizados vários cursos. Poderia citar agora de derivados do leite, cooperativismo e associativismo, doma, inseminação (...) Foram feitos dias de [estudo em] campo e teve um [curso] para manejo de pescado, para realização de piscicultura”, disse.
Com o apoio, trabalhadores também formaram no início do ano a cooperativa mista dos produtores rurais de Aripuanã. O presidente da entidade, Valdemar Zuconelli, disse que a parceria entre Sebra e Águas de Pedra o grupo de cooperados viajou pelo Brasil conhecendo experiências bem-sucedidas de cooperativismo.
Com as novas técnicas, a produção de leite de Aripuanã, carro chefe da cooperativa de Valdemar, passou de cerca de 3 mil litros em 2006 para cerca de 15 mil, ao dia. O presidente ainda comentou que, com uma recente aquisição de vacas por meio de um financiamento com o Banco do Brasil a produção diária deve chegar aos 20 mil litros até o final do ano. A maior parte do leite é vendida para o município vizinho de Juruena.
“A parceria [com Sebrae] é uma das melhores do produtor rural. Quando uma prefeitura ia ter recurso para levar e mostrar como funcionam lá fora as cooperativas em andamento?”, indagou.
Ainda há projetos sendo desenvolvidos ligados à cafeicultura e fruticultura.
Altos e baixos
De acordo com comerciantes locais, a economia em Aripuanã vive de altos e baixos. Segundo Odair José Guerino, proprietário de uma loja de informática, antes da operação Curupira, realizada em 2005, o comércio ilegal de madeira fazia girar muito dinheiro na cidade.
“O que mais se via eram caminhonetes novas, dinheiro sendo gasto em todos os comércios, a agência do Banco do Brasil lotada. Mas, depois da Curupira, isso acabou e só quem soube administrar bem o seu negócio sobreviveu”, disse.
Após o período, Odair diz que a cidade “entrou em baixa” e iniciou um processo de recuperação no final de 2007, com a chegada da Águas da Pedra para a construção da hidrelétrica de Dardanelos.
“Tivemos um período muito bom que foi do fim de 2007 a 2009, quando havia muitos trabalhadores da usina. Agora não são tantos e começamos de novo a ver uma queda nas vendas. Agora é hora de administrar o negócio e esperar que a Votorantin realmente implante uma usina de mineração no município”, disse.
Quem também tem lembranças do período pré-curupira é o contador Florismaldo Ferreiro, que há 20 está em Aripuanã. “Aqui, antes, tinha dinheiro fácil, depois, com a fiscalização, começou a ficar escasso”, disse.
Ele também falou do crescimento no comércio e na economia local após o início da construção de Dardanelos, mas disse que o período pré-curupira é incomparável. “Deu uma reagida com a construção, mas nada se compara a época da madeira”.
Por outro lado, seu Flores, como é conhecido, disse que os projetos sociais implantados pela usina tem gerado dividendos para o município. “Temos o hospital em construção, colocaram asfalto em algumas ruas, há isso também”, comentou.
Invasão
O canteiro de obras da usina de Dardanelos foi invadido por um grupo de cerca de 250 índios no domingo. Duzentas e oitenta funcionários foram feitos reféns e, depois, trocados por 6 diretores da empresa. Os indígenas só desocuparam o local na noite de terça-feira, após um acordo que garantiu programas de saúde e educação indígena.
Os índios alegam que as urnas mortuárias encontradas no terrenos da usina são de seus antepassados e passaram a considerar o local sagrado. O espaço ficará preservado e os objetos retirados serão enviados para um museu a ser construído em Aripuanã.
Município
Aripuanã foi emancipada em 1943 e conta com cerca de 20 mil habitantes numa área de 25 mil quilômetros quadrados.