
O Gre-Nal oferece ensinamentos importantes. Talvez o principal seja a lembrança de que o otimismo deve ser consumido com moderação. Não costuma haver muito espaço para a esperança quando Grêmio e Inter se encontram: ela é solapada pela angústia – o pesadelo de uma possível derrota soterrando o sonho de uma eventual vitória. Mas algo estranho aconteceu nos últimos dias: os colorados estavam confiantes, quase eufóricos.
É que todos os vetores apontavam para o lado vermelho: ele havia vencido o primeiro Gre-Nal da final do Campeonato Gaúcho por 2 a 0; a volta era no Beira-Rio; o time colorado é melhor; há no Inter um trabalho mais longo e consistente. Mesmo para um clube maltratado pelos últimos anos, mesmo para uma torcida machucada por decepções em série, a sensação era de que desta vez não tinha como: o Inter seria campeão.
E foi. O título confirmado neste domingo, com empate por 1 a 1 no Beira-Rio, devolveu aos colorados um prazer ausente havia nove anos. É muito tempo. Já seria uma seca desumana em qualquer cenário – mas foi pior pelo contraste com o período anterior, de títulos em profusão. O Inter conheceu a fartura, se deixou seduzir por ela, pagou um preço alto (o rebaixamento, sobretudo), viveu a penúria.
O título gaúcho de 2025 valia muito por todo esse contexto. E a ele se somava a obsessão do octa – a possibilidade de o Grêmio conquistar o oitavo estadual consecutivo, algo que só o Inter alcançou. Não havia margem para mais uma derrota, portanto: ser campeão era uma urgência. O Inter precisava desse título para se permitir sonhar com outra quebra, a de conquistas nacionais ou internacionais (a última foi a Recopa de 2011), como observou o técnico Roger Machado logo depois do Gre-Nal, também se permitindo ser otimista.
– Tirar o Inter da fila das conquistas, tenho certeza, vai pavimentar outras conquistas este ano – disse ele.
A sensação de que dias melhores virão tem amparo na consistência do time – reconhecida pelos gritos (impensáveis um ano atrás) de “olê, olê, olê, olê, Roger, Roger” logo após Gre-Nal. O Inter, depois da arrancada que o levou à Libertadores no Brasileirão do ano passado, foi campeão gaúcho invicto e demonstrou evidente superioridade sobre o Grêmio nos três clássicos disputados.
No deste domingo, teve atuação pragmática: controlou o tempo, permitiu que o adversário ficasse com a bola, saiu com paciência. Na prática, não teve o título ameaçado – nem antes, nem depois do golaço de falta de Enner Valencia, seguido pelo empate de Wagner Leonardo.
Jogadores do Inter erguem a taça do Gauchão — Foto: Ricardo Duarte/Divulgação Inter
Nada disso torna o Inter favorito aos títulos maiores que disputará ao longo do ano – Libertadores, Brasileirão e Copa do Brasil. Há times de nível parecido e ao menos um superior, o Flamengo. Mas, ao ganhar o Gauchão, os colorados conquistaram o direito de olhar para o futuro. O Inter, enfim campeão, está livre para recomeçar.