Com a proximidade da COP 30, as discussões sobre mudanças climáticas ganham destaque, e o agronegócio ocupa um espaço central nesse debate. A pecuária brasileira, em particular, tem demonstrado uma nova perspectiva sobre o tema, posicionando-se como parte da solução para os desafios da emissão de gases de efeito estufa.
Por meio do avanço da ciência e da adoção de tecnologias sustentáveis, o setor contribui para a redução das emissões e para o sequestro de carbono no solo. Essas práticas tornam a atividade uma aliada estratégica no cumprimento das metas globais de mitigação das mudanças climáticas.
O aumento da eficiência produtiva é o ponto de partida dessa transformação. “Animais mais produtivos e geneticamente superiores convertem melhor o alimento em carne ou leite, ficam menos tempo no sistema e, com isso, emitem menos metano por quilo produzido. É um ganho duplo tanto ambiental quanto econômico”, explica Diego Guidolin, consultor em pecuária do Departamento Técnico da Famasul.
A melhoria genética, aliada a um manejo nutricional de precisão, desempenha um papel importante. Dietas balanceadas e suplementação estratégica diminuem a fermentação ruminal e, consequentemente, a liberação de metano. O bem-estar animal e a redução do tempo até o abate também elevam a produtividade e diminuem a pegada de carbono.
Outro ponto de destaque é o manejo de pastagens, que aprimora a ciclagem de nutrientes, reduz a compactação e favorece a atividade biológica do solo. O resultado é um ambiente propício para a infiltração de água, o aumento da fertilidade e a mitigação de emissões associadas à produção.
A recuperação de áreas degradadas e o uso de sistemas integrados, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), ampliam o sequestro de carbono. “Ao restaurar áreas de baixa produtividade, o produtor promove o acúmulo de matéria orgânica e o aumento dos estoques de carbono no solo, reduzindo a concentração atmosférica de CO₂”, detalha Guidolin.
A sustentabilidade se estende à gestão de resíduos em confinamentos. O uso de biodigestores transforma dejetos em biogás e biofertilizantes, substituindo insumos químicos. A compostagem e a fertirrigação completam o ciclo de aproveitamento dos nutrientes.
O monitoramento preciso das emissões, com sensores e softwares de gestão, permite quantificar e verificar os impactos ambientais. Essas ferramentas acompanham em tempo real variáveis como a produção de metano entérico, o consumo de alimento e o manejo dos dejetos.
Essas práticas integram programas como o Precoce MS, o Plano ABC+ e o Plano Nacional de Pecuária de Baixo Carbono (PNPB). A adesão permite aos produtores alinhar suas atividades às metas climáticas, fortalecer a conformidade regulatória e acessar incentivos financeiros. A rastreabilidade e certificações, como Carne Carbono Neutro, reforçam a transparência da cadeia.
A participação da pecuária em mercados de carbono já é uma realidade crescente. Projeções indicam que o mercado global de créditos ligados ao setor pode saltar de US$ 3,8 bilhões em 2024 para mais de US$ 14 bilhões em 2032, refletindo uma taxa de crescimento anual próxima de 30%.
“O caminho para uma pecuária de baixo carbono já está traçado. O que precisamos agora é ampliar políticas de incentivo, difundir conhecimento técnico e fortalecer a governança do setor. Assim, o Brasil consolida seu papel como líder na produção sustentável de alimentos e na busca pela neutralidade climática até 2050”, conclui Guidolin.