Completar 50 anos de formado em Medicina é uma marca que poucos alcançam em plena atividade profissional. Para o cirurgião geral Dr. Joaquim Delfino Neto, o jubileu da profissão chega acompanhado de gratidão, lucidez e a mesma disposição que o mantém atuante no sistema de saúde de Juína e região. Em entrevista ao Juína News, o médico afirmou estar “muito feliz por ter chegado até aqui”, destacando ter atravessado momentos desafiadores, inclusive a pandemia. “Sobrevivi até a isso, e continuo trabalhando”, resume.
Embora aposentado formalmente há cerca de dez anos, Dr. Joaquim segue exercendo a medicina de forma intensa. Atua em plantões de UTI em Juína e Brasnorte, trabalha em hospital no município, realiza exames de ultrassonografia e endoscopia e mantém rotina ativa. Para ele, a experiência acumulada ao longo de décadas não pode ser simplesmente interrompida. “Tenho muita coisa guardada. Para que me aposentar e acabar com tudo isso que fiz durante 50 anos? ”, questiona, defendendo que o médico deve permanecer em atividade enquanto tiver condições físicas e intelectuais.
Ao relembrar passagens marcantes da carreira, destacou episódios que ajudaram a moldar sua trajetória profissional. No início dos anos 2000, ao chegar a Juína, investiu em tecnologia ao trazer para o município um aparelho de tomografia. Mesmo não sendo neurocirurgião, realizou procedimentos de emergência em casos graves de traumatismo craniano, salvando vidas. “Nunca tinha feito neurocirurgia, mas fiz por conta do treinamento”, afirmou, lembrando que aprendeu com especialistas contratados durante sua gestão como secretário municipal de Saúde. Ao todo, cerca de 30 pacientes foram operados com sucesso nessas condições.
Nem todas as lembranças, porém, são de vitórias. O médico recorda com pesar um caso ocorrido na UTI de Juína, quando uma paciente, após cirurgia plástica, sofreu embolia pulmonar e faleceu, apesar do empenho de toda a equipe médica. “Foi muito impactante, todos ficaram decepcionados”, relata, ressaltando que a medicina também convive com limites e perdas inesperadas. Além da atuação clínica, Dr. Joaquim teve papel decisivo na estruturação da saúde pública de Juína. Como Secretário Municipal de Saúde, liderou a criação da UTI do município no ano 2000, hoje com 25 leitos, em um período em que nem cidades maiores do estado possuíam esse recurso. Também teve breve passagem pela política estadual como deputado, experiência que decidiu interromper. “Nunca me arrependi de ter renunciado. Aquilo não era para mim”, afirmou, criticando o ambiente de conflitos constantes.
A celebração dos 50 anos de profissão foi marcada por uma homenagem preparada pela família, que destacou a trajetória iniciada em 1975, com a formatura em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Natural de Governador Valadares (MG), criado no Paraná e pioneiro em Juína, Dr. Joaquim construiu uma história que se confunde com o desenvolvimento da saúde no Noroeste de Mato Grosso, sendo reconhecido pelo atendimento humanizado e pelo compromisso com a vida.
De família pioneira, ele se orgulha de integrar a família Delfino Coelho, que hoje soma 11 médicos, muitos deles influenciados por seu exemplo. Aos 79 anos, Dr. Joaquim segue estudando, trabalhando e reafirmando uma convicção que atravessa toda a sua trajetória: “médico tem que estudar”. Para Juína, sua história permanece como referência de dedicação, coragem e serviço permanente à vida.